Dona de uma alegria contagiante e uma linguagem artística marcadamente lúdica e colorida, Susana Bravo diz-nos ser uma apaixonada pela vida: “A vida é um presente que nos dão e que temos de aproveitar ao máximo”. Natural do Porto, a artista plástica pinta em torno da memória, seja ela literal, social, coletiva ou familiar, na intenção de conseguir aquilo que melhor sabe fazer: ilustrar histórias. Suas ou de quem a procura, todas estas narrativas carregam um forte simbolismo identitário, capaz de ser um elo que liga o passado ao presente, antevendo também o futuro, de uma forma bonita e intencional.

Todas as histórias e as memórias que eterniza em cada tela são a prova de que essas vivências podem coexistir num só espaço temporal – um exercício que (talvez) só a arte é capaz de atingir. Susana Bravo abre-nos as portas do seu ateliê para uma conversa sincera sobre a vida: a sua e a da sua arte. À entrada, saltam-nos à vista prateleiras preenchidas maioritariamente por livros, um ou outro jornal já antigo e muitos desenhos, obras mais recentes e outras já icónicas que a mesma preserva desde sempre – não fosse a artista uma assumida apaixonada por poesia e literatura.
Num percurso de vida dedicado exclusivamente à arte, despertam-se narrativas tão vívidas e completas como se de um livro se tratasse. “Eu preservo algumas memórias minhas, mas também as histórias dos outros, porque acho que o ser humano é feito de várias camadas – que podem ser histórias, vivências, momentos e até situações exteriores que nos marcam e que mudam o rumo da nossa vida. Acho que isso tudo é o que faz a riqueza que é estar vivo. E eu tento transpor isso para as minhas telas. No fundo, é uma paixão pela vida, que é uma dádiva”, partilha a artista. Filha de mãe inglesa e pai português, vê-se desde sempre inspirada por uma dualidade de culturas, bastante opostas, e capazes de abrir as portas para uma expressão artística ilimitável. Também as suas obras o são: uma coexistência de mundos que contrastam entre si. Vemos símbolos que nos remetem para o passado a coabitarem com objetos contemporâneos e que, muitas das vezes, carregam um diferente valor consoante o espectador que observa a obra. “Há objetos que são nossos e nos contam histórias e esses objetos podem ter um valor para uma pessoa e simbolizar alguma coisa que para nós não nos diz nada. Mas para essa pessoa ele faz parte da sua vida. Eu trago esse objeto para a tela porque ele conta alguma coisa”, continua.

A partir de uma tela em branco, Susana ilustra uma vida. Contrariamente ao que acontece em suportes artísticos como a música, a existência de uma linha temporal na pintura permite uma simultaneidade de espaços temporais num só contexto. E é, precisamente, nesse lugar-comum que a arte acontece, vive e dá vida às várias narrativas que conta.
Na fusão de mundos que coabitam nas suas obras, desperta-nos a atenção a figura humana – quase sempre feminina – que se apresenta sob diferentes perspetivas, por vezes mais expressiva, outras mais discreta, numa arte que se define simultaneamente como abstrata e figurativa. Da pintura em tela às narrativas em papel, Susana Bravo afirma ser ainda uma apaixonada pela arte postal – que em tanto a difere e caracteriza. “Gosto muito de arte postal por ser uma arte generosa: uma pessoa dá e nem sabe para ela onde vai, sabe apenas que vai para o mundo e é isso que me fascina mais. Recentemente, mandei um postal para Espanha e um outro para o Japão”, partilha. Através de uma linguagem colorida e lúdica, a artista portuense é conhecida pelas suas pinturas de técnica mista, pelo que podemos ainda hoje reparar em pormenores de colagens que outrora se sobressaíam das suas telas. Atualmente, a artista mostra-se ávida de continuar a trilhar um caminho de sucesso na arte portuguesa, não fechando portas aos vários projetos com os quais se vai relacionando. “Gosto de ter sempre novos projetos e que sejam com artistas diferentes. Amo promover a arte portuguesa e tenho um projeto de livros de artista que visa, precisamente, divulgar a arte e os artistas portugueses”, conta-nos.
Com obras expostas em diversos espaços públicos e em várias instituições, quer em Portugal como no estrangeiro (estando representada nos Estados Unidos, no Brasil, na Suécia, na Grã-Bretanha, na Alemanha, na Holanda e em Espanha), Susana Bravo irá expor individualmente uma coletânea de obras abstratas, em outubro, na cidade do Porto.

