“Inspiro-me em mulheres fortes, na tradição e na contemporaneidade artística”. É desta forma que apresentamos Margarida Fleming, uma pintora que nos seus traços expressionistas nos traz rostos com histórias, como se aquele olhar vibrante nos transportasse para a vida da personagem pintada na tela. Numa constante odisseia de exploração, num universo autodidata, Margarida Fleming é intuitiva e, sobretudo, livre!

Em primeiro lugar, gostaríamos de conhecer melhor esta paixão pelas artes. A Margarida sempre esteve ligada ao ramo artístico? Como diria que começou esta sua aventura pelo mundo das artes?
A minha aventura no ramo artístico começou bem cedo. Lembro-me de experimentar diferentes materiais e misturar tudo e mais alguma coisa, sem pensar muito e sem saber grande coisa. Mais crescida, lia livros sobre artistas e as suas técnicas começando assim a definir o meu estilo criativo. Olhando para trás e vendo trabalhos antigos, consigo identificar muitas semelhanças de ideias ou técnicas que ainda uso nos dias de hoje.
É verdade que a Margarida, em criança, já tinha ganho um concurso de desenho por altura da Expo ’98?
Sim, ganhei um concurso dos CTT a nível nacional, tinha eu nove anos… A temática era o Natal e a Expo’98. Então pintei a lápis de cor o Gil com o gorro do pai natal e um posto dos correios, dos antigos, também com um gorro de pai natal. Ganhei um bilhete para a Expo’98.
Em termos curriculares, a Margarida optou por uma formação em Arquitetura, correto? O que lhe deu a Arquitetura, em termos de visão artística?
Sim, tirei o curso de Arquitetura e posteriormente de Design Gráfico. O curso de Arquitetura é um curso bastante completo por abordar diferentes áreas, trabalhar a escala da vida humana, desde a manual até a urbana. É bastante completo a nível de cultura geral. Para além disso, desenvolve-se métodos de processo trabalho bastante rigorosos que vão desde o conceito à execução. Saber defender um trabalho, tanto a nível técnico como teórico, ter uma visão de vários ângulos/campos do mesmo, foi-me bastante útil a nível artístico.
Considera-se uma artista autodidata?
Sim, o facto de nunca ter tirado o curso Belas Artes e ter o meu conhecimento através da experimentação faz de mim autodidata. Experimentar sem medos e dar margem para falhas, a meu ver, é a melhor forma de aprender. Sou uma entusiasta pela arte e estou constantemente em pesquisa e procura por mais conhecimento, tanto teórico como técnico, tendo sempre em conta que a minha parte intuitiva e ingénua não pode desaparecer.
Vamos focar-nos na sua pintura: consegue explicar-nos a sua técnica?
Pinto sobre tela, sobre revista, sobre parede, sobre layers de acrílico. Em diferentes escalas e formatos. Com pastel de óleo, tinta de acrílico, marcadores. Misturo tudo por vezes. É um processo de trabalho intuitivo e livre! Gosto de não me limitar e estar em constante exploração.
Nas suas obras vemos rostos, de mulheres misteriosas, com olhares tanto tenros quanto vazios. A Margarida tenta retratar algo em específico nos seus quadros? Alguma espécie de máscara que usamos diariamente?
As personagens que pinto possuem pinceladas densas, que contrastam com partes do rosto mais delicadas e expressivas, como os olhos e a boca. A expressão mais realista dos olhos consegue dar alma às personagens. Os pescoços compridos e ombros baixos, corpo menos trabalhado, faz com que a atenção seja desviada para o rosto. Tenho especial interesse por poses mais imperiais e feições marcadas, valorizando o olhar. O olhar conta uma história e cada um de nós consegue imaginar uma história diferente. “Quem é esta mulher que levo para casa?”, pergunta um comprador. É quem tu quiseres. Felizmente todos nós conseguimos imaginar e facilmente sentir empatia ou não com uma personagem.