Teresa Freitas: a estética do delírio

Teresa Freitas: a estética do delírio

Num universo onde o real por vezes se confunde com a representação, onde o comum instiga a existência e se transforma numa verdade paralela, a Teresa revela-se e revela-nos a sua visão preservativa: uma imagem sob a cor que a define.

Na tua página de Instagram a criatividade anda de mãos dadas com a simplicidade; uma lógica simples que se torna num lugar autêntico entre o real e o imaginário. Onde é que começa a tua história dentro das fotografias?

Construo todas as minhas fotografias com um primeiro propósito que é estritamente visual, para que possam ser apreciadas individualmente e imediatamente sem que seja necessário descrevê-las ou que exista uma história por detrás de cada uma. Como um todo, tenho procurado criar esse espaço onde a realidade de um lugar é representada, mas ao mesmo tempo há algo de diferente e singular que a desencaixa de como a conhecemos.

Esta ideia relaciona-se muito a uma frase que Eli Siegel escreveu quando explicava a filosofia Aesthetic Realism: “imagination and aesthetics make for the meeting of wonder and matter-of-fact”. São estas duas linhas que cruzo: wonder e matter-of-fact. Recentemente, tenho trabalhado a presença destes aparentes opostos de forma a que exista mais subtilmente, fundamentalmente através da cor.

As tuas cores são um verbo e um adjetivo que enquadram as tuas memórias?

As minhas fotografias remetem a uma memória construída, no sentido que estiveram envolvidas num processo de preservar e esquecer. Começam pela decisão de tirar uma fotografia e, posteriormente na edição, trabalhar essa memória visual para que se torne aquilo que procuro. Acima de tudo, é através da cor e forma de a trabalhar que consigo atingir esse objetivo. A cor não remete para uma memória; altera-a para que se torne algo novo que o passado não tinha.

O sentido do teu trabalho é substancialmente primaveril, em tudo: nas formas, nas cores, nas linhas, no conteúdo, nos lugares, na composição. Quase como se criasses uma linha equatorial que distingue toda a tua luz das sombras. Por tudo isto, o teu universo parece levar-nos para o princípio de tudo. As tuas fotografias são o teu início?

Não houve um ponto no espaço e tempo a partir do qual eu consiga marcar um início. As minhas fotografias são o culminar de tudo (a escolha, a captura, a seleção, a edição) até ao momento em que cada uma passa a existir como uma imagem final e, por isso, não as considero como um início meu. Cada fotografia é o início (e fim) da própria.

Se basculharmos a tua página desde a primeira fotografia publicada até às de hoje, sentimos uma espécie de burburinho sentimental a transformar-se num trabalho pensado, demarcado, que procura outras cores. Foste criando um mundo só teu, mas também para todos?

Não pretendo ter um impacto específico numa dada audiência e as minhas expectativas não estão determinadas para além da sensação que tento incorporar no meu trabalho. Naturalmente, quero que as pessoas gostem do que faço. Acaba por ser um ponto central: que se relacionem com as minhas imagens, apreciem-nas, admirem um detalhe ou pelo menos que reconheçam que são merecedoras de atenção, mesmo que não correspondam a um gosto pessoal. O meu processo de edição é o que define o meu trabalho como um todo, nomeadamente porque existe uma consistência e estética específica nas imagens – é isso que espero que as pessoas reconheçam.

O teu lugar preferido no teu mundo conhecido com os teus tons onde é que fica?

Digo sempre que o meu lugar preferido é aquele que ainda não fui. Se tivesse que escolher, escolhia o Alentejo, mas ainda não fui ao Japão.