Filipa Sáragga, a beleza no expoente máximo da cor

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Se tivéssemos que encontrar uma palavra para descrever a artista plástica Filipa Sáragga seria, sem dúvida, “cor”. A beleza no expoente máximo da cor. Com a pintura como método para viver os seus dias e acalmar o seu espírito, Filipa Sáragga é natural de Lisboa, mas vive no admirável mundo da arte, onde as possibilidades são infinitas. “Durante muitos anos resolvi-me através da pintura. Era como se aquilo que eu não pudesse contar, apenas as minhas cores gritavam. E a cor resolveu-me tantos problemas, sem que ninguém entendesse”, conta-nos.

Em primeiro lugar, gostaríamos de conhecer melhor a Filipa Sáragga. Pode começar por falar-nos um pouco de si? Naturalidade, idade, formação, hobbies, etc. 

Tenho 36 anos, nasci em Lisboa e sou formada em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Gosto de ler, dançar, cozinhar, contemplar a natureza (que talvez seja hoje uma das minhas maiores fontes de inspiração). Gosto de escrever, tenho três livros editados e um deles, A Princesa Azul e a Felicidade Escondida, está incluído no Plano Nacional de Leitura. Este livro foi apresentado pelo nosso atual Presidente da República. Em termos de desporto, monto a cavalo, que era algo que sempre gostei desde pequena, mas que só há uns tempos me tenho vindo a dedicar mais à séria.

Fotografia ©Noa Noa

A Filipa é, para além de muitas coisas, uma reconhecida artista plástica. Gostávamos que nos falasse do início do seu percurso. Como é que tudo começou?

Uma vez, numa entrevista em que a minha mãe estava presente, perguntaram-me com que idade comecei a pintar. Eu respondi “Quando comecei a brincar às bonecas”, mas a minha mãe retorquiu imediatamente: “Não, Filipa, isso não é verdade. Nunca brincaste às bonecas, só pintavas!” Portanto, a necessidade plástica nasceu comigo e está em mim. Nunca tive dúvidas daquilo que queria fazer. E penso que isso é uma grande bênção!

Foi aos 15 anos, quando comecei a ter aulas intensas com o mestre Luís Guimarães, que fui aperfeiçoando aquilo que já tinha aprendido. Passava verões inteiros com o mestre. Toda a minha adolescência despendi de idas à praia e programas característicos da adolescência para pintar. Pintava muitas horas. Durante muitos anos acordei sempre às cinco da manhã para pintar. Os amigos dos meus pais olhavam para mim com uma certa estranheza (risos).

A pintura como expoente máximo da beleza da arte. Considera-se uma artista no sentido nato da palavra? Na sua opinião, o que faz de si uma verdadeira artista?

Não me considero. Acho que nenhum artista se considera artista. Nem sei se isso não será pretensioso. Sei que quanto mais estudo, mais leio e mais trabalho, mais percebo que tenho tanto para fazer. Agora que a arte está em mim, isso não tenho dúvida! Se eu não criar (pintar, desenhar, escrever ou até mesmo cozinhar), enlouqueço. Preciso de estar constantemente a questionar-me e a superar-me.

A beleza das cores e a sua harmonia podem facilmente servir como descrição, à primeira vista, das suas obras. Concorda?

Concordo. A cor é o meu forte. É aquilo que domino com mais facilidade.

Os elementos infantis destacam-se em algumas das suas obras. Que mensagem pretende passar ao incluir os personagens do imaginário infantil nas suas telas?

Incluí elementos infantis numa coleção específica, que tinha um propósito muito específico. E, claro, também o faço com frequência para ilustrar os meus livros, pois eles são também dirigidos a crianças.

Essa coleção, que expus em 2019, chamava-se That’s All Folks e foi uma coleção que teve uma história engraçada. Era uma coleção de arte sacra, algo até “pesado”, os fundos daquelas obras tinham-me demorado mais de dois anos a ser feitos. Não sei quantas horas perdi naqueles trabalhos. Até que um dia um cão bebé dos meus pais ficou trancado na garagem onde eu pintava na altura e, como as telas são de linho, ele roeu e comeu metade dos trabalhos.

Passei dias a chorar! Era muito trabalho no lixo. E meti as telas de lado. Até que um dia (anos mais tarde) voltei a pegar nelas, cortei tudo o que estava rasgado e decidi dar um cunho divertido a um trabalho tão sério. Foi aí que viajei pelo imaginário infantil, que sempre fez parte de mim e que dei continuação ao trabalho “perdido”.

Fotografia ©Noa Noa

Hoje em dia, a Filipa mantém-se ligada a projetos de cariz solidário, principalmente relacionados com a infância. Correto? Pode falar-nos um pouco dessa vertente na sua vida? 

A vertente social está ligada a mim e em mim. Neste momento, não tenho nenhum projeto próprio de cariz social, nem quero ter. Vou fazendo sempre que posso. Idas às escolas, prisões, hospitais, entre outros. É algo que me preenche e que me dá sentido à vida. Também me ajuda a relativizar aquilo que não interessa e a valorizar o essencial.

Para terminarmos, gostaríamos de perguntar à Filipa quem são as suas influências no momento em que se refugia no seu atelier. Quem é que a inspira, seja de que modo for? Pintores, músicos, escritores, etc. 

Deus. Os meus pais. Antoine S Exupéry, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Almada Negreiros, Malhoa, Picasso, Frida, Amália, Ana Moura.